25 de jul. de 2008





Por ROBERTO VIEIRA


Final do século XX. Um clube em vias de extinção. Pouca gente lembra dos detalhes da débâcle. Mas a história está aí pra isso mesmo, meus senhores. Para registrar os cadafalsos da Alemanha nazista, para analisar os fracassos da república collorida, para incitar gregos e troianos.

No dia 14 de dezembro 1999 o que era ruim ficou pior. O Clube Náutico Capibaribe mergulhava em águas mais profundas. Paquerava o apocalipse. Eleição do Conselho Deliberativo. O presidente alvirrubro reúne o elenco antes do embarque para Manaus e lança a sentença:

"Acabou o dinheiro! O clube não tem dinheiro pra pagar os salários atrasados de outubro e novembro! E passem bem!"

O Náutico disputava o quandrangular final da terceira divisão. Os jogadores observaram o mandatário entrar em seu Land Rover e partir para casa.

Lembro que não acreditei ao saber da notícia. Raiva e frustração. Tristeza e decepção com os comandantes do meu clube. Foi quando Wilson Campos reuniu os jogadores na piscina e prometeu que a futura diretoria honraria todos os compromissos. Prometeu ainda 50 mil reais de gratificação pela classificação. O velho Wilson Campos, capitão de antigas batalhas. Em vão.

O elenco viaja dividido. Chega em Manaus e perde para o São Raimundo por 2 x 1. Com uma atuação melancólica. O time volta para casa e enfrenta novamente o time amazonense nos Aflitos no dia 17 de dezembro.

Eu havia chegado do trabalho e não ia ao jogo. Mas uma nova guerra entre a presidência e os jogadores explodiu antes da partida.

O volante Veloso resumiu a situação: "Sem dinheiro fica mais difícil a bola entrar".

Coloquei minha camisa vermelha e branca e fui para o estádio presenciar a palhaçada. Sem dinheiro e sem raça o time entregou o jogo: 2 x 1 para o São Raimundo. A torcida vaiava. Eu desci as arquibancadas enojado. Não somente com os jogadores. Estava cansado da palhaçada reinante nos Aflitos. Da falta de respeito com o passado e o presente. Da falta de profissionalismo e integridade. Cheguei em casa e sacudi minha camisa no lixo. E avisei que dali em diante eu não queria saber de futebol.

O Náutico de Adir; Carlinhos (Marquinhos), Biluca, Luciano e Rogério; Léo Rachid, Velozo, Marco Antônio e Luís Carlos Oliveira; Alex Carioca (Jacaré) e Rômulo (Pedrinho), do técnico Artur Neto e do presidente Correia foi o pior Náutico da história centenária do clube. Porque perder faz parte do jogo. Mas entregar o jogo são outros quinhentos.

Este Náutico do dia 17 de dezembro só tem paralelo com o Náutico que entregou o jogo para o Sport ano passado na Ilha do Retiro por 4 x 1 comandado por Marcel.

O Náutico prosseguiu sua trajetória perdendo para o Serra e para o bravo Fluminense de Parreira. Parreira que abandonou a grana para salvar seu clube do coração. Parreira que ganhou minha admiração neste mesmo Aflitos dias depois ao conquistar a terceira divisão.

Escrevo estas linhas para que a memória seja preservada. O resgate do Náutico foi feito com sangue, suor e lágrimas. O Náutico ressurgiu das cinzas e hoje torcida e dirigentes têm dois caminhos. Continuar a obra daqueles que ressuscitaram o clube em 2001. Que lhe deram dignidade e respeito.

Ou repetir os gestos fratricidas de antigos senhores feudais.

Saudações alvirrubras,

Roberto

PS: Naquele mesmo dia, de madrugada, resgatei meu manto alvirrubro do lixo. E pedi desculpas. Por mim e pelos fariseus.


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